Uma menina, uma mulher

segunda-feira, julho 09, 2007

Cuidado! Frágil!

Sexta-feira, 29 de junho de 2007, 1h30.

Como sempre faço pra voltar pra casa depois de fechar o restaurante, no referido dia peguei o famoso night bus rumo a Trafalgar Square. Quase chegando lá, mais precisamente em Piccadilly Circus, o trânsito estava bem lento, incomum pro horário. Na frente de uma balada, uns 4 ou 5 carros de polícia parados, o tráfego de veículos sendo desviado para a via paralela e muita gente na porta da tal casa noturna. Isso foi tudo que consegui ver. Na hora pensei: “Vixi... Será que alguém foi atropelado? Também! Não sei porquê, mas nessa região pedestre não respeita semáforo...”. O ônibus segue em frente e 3 minutos depois já não estava mais supondo o que estaria acontecendo ali no centro da cidade.

No dia seguinte, a caminho do trabalho, pego um dos 2.573 jornais gratuitos distribuídos por aqui e, claro, choque! CARACA! Aquilo ontem era uma bomba! Um atentado! Eu estava passando por lá na hora! Que merda é essa?!?!


Quinta-feira, 05 de julho de 2007, 17h35.

Chego na plataforma da Piccadilly line, em Piccadilly Circus, olho o letreiro e vejo que falta 1 minuto pro trem chegar. Beleza! Vou chegar sussa no trabalho.

Isso era o que eu achava. Na mesma hora os autofalantes da estação começam a anunciar em alto e bom tom: “TODOS OS PASSAGEIROS, POR FAVOR, SAIAM DA ESTAÇÃO IMEDIATAMENTE! ESTA ESTAÇÃO ESTÁ FECHADA! TODOS OS PASSAGEIROS, POR FAVOR, SAIAM DA ESTAÇÃO IMEDIATAMENTE!”. Adivinha o que eu pensei na hora! - De antemão, perdão pelo palavreado! – FODEU! Essa merda vai explodir agora e eu tô aqui!

Enquanto um japa funcionário do metrô tentava agilizar a evacuação da plataforma, o trem que eu e mais centenas de pessoas esperávamos se aproxima. Óbvio que muita gente pensou “Vou pegar esse metrô e sair daqui rapidinho!”. Rá! Vai achando que é fácil assim... Quem disse que ele pararia? Passou direto rumo a Green Park, a parada seguinte.

Tudo que dá pra pensar numa hora dessa é: Preciso sair daqui! E rápido!. O coração dispara. Todo mundo com a mesma cara de incredulidade diante de tamanha impotência. Famílias tentando se encontrar no meio da balbúrdia, mães procurando espaço pros carrinhos de seus bebês, idosos extraindo forças sabe-se lá de onde pra subir os degraus de uma das escadas que naquele momento deveria mas não era rolante.

Como o número de pessoas na escada desligada era menor, na hora não tive dúvida. Perna pra quê te quero! Tum, tum, tum, tum, tum. Um degrau atrás do outro ligeirinho que é pra deixar tudo isso pra trás. Até que alcanço a pessoa a minha frente, uma senhora cheinha, digamos assim, que encontrava uma certa dificuldade respiratória diante do inesperado exercício aeróbico.

Tento passar pela esquerda – a ordem aqui é permanecer à direita e deixar o outro lado livre para os apressados – mas não teve jeito. O braço da tiazona estava lá, ajudando a sustentar o resto do corpo que pesava demais sobre os membros inferiores. Resolvi apelar pra J. Cristo. Gente nessa idade sempre tem prece de sobra. Ai, meu Jesus Cristinho, ajuda essa velhinha a chegar no topo da escada logo, por favor!

Funcionou. Demorou um pouco, é verdade, pois a tia ainda teve que fazer uns pit stops pra recuperar o fôlego. Mas também, o filho de Deus devia estar bem ocupado naquela hora.

Finalmente atinjo as catracas de saída – totalmente liberadas. Mais um lance de escada e chego à rua. Por alguns segundos, parei, olhei ao meu redor e fiquei sem reação. Não sabia pra onde ir. Queria sacar a câmera da bolsa e filmar aquele formigueiro humano desorganizado. Queria estar no Brasil. Queria ligar pra minha mãe e dizer que sentia medo - Mamy, agora já passou, viu?! : )

Achei melhor continuar me afastando dali. Enquanto subia a Regent’s Street a pé, pra chegar em Oxford Street e dali pegar um ônibus pro trabalho, minha cabeça fervilhava. Eu fugindo de uma bomba e esse monte de gente, sem saber o que acontece sob seus pés, a fazer tilintar as caixas registradoras das lojas de artigos de luxo. Quanta ironia!

Esse episódio – e o clima que ronda Londres nos últimos dias - me deixou uma certeza: segurança é apenas uma sensação. Frágil. Muito frágil.

PS: Antes que você cogite a idéia de achar que eu estou paranóica, me sentindo aterrorizada e blábláblá, aviso: tá tudo ótimo comigo, ok?! Não é isso que vai me fazer ficar em casa. Tanto que a Bélgica me espera esse final de semana! ; )

3 comentários:

Anônimo disse...

Bélgica, é...?
Uns com tanto...
Outros, tão pouco...

Yara Terra disse...

Ô, pequena! Imagino a sua cara de "prejudicou"... Vai prá Bélgica, aproveita muito e, na volta, resolve esta merda pra me esperar, tá bem?
bjoka, sempre lotada de saudade!

Anônimo disse...

Olá! Achei seu blog pesquisando sobre a Inglaterra! To indo praí fazer intercâmbio até o fim desse ano, e a princípio eu estava certa de que Londres seria o lugar ideal, porém, algumas pessoas me disseram que é melhor eu optar por uma cidade do interior, principalmente por causa da segurança. Está chegando a hora de fechar com a agência e eu ainda estou muito indecisa. Você que está aí também me indicaria ir para outro lugar? Ou vale a pena arriscar?
Desculpe-me pela invasão! E a propósito, gostei dos seus textos! =)

Beijos!